sábado, 12 de agosto de 2017

A NUDEZ NAS ARTES E NAS RELIGIÕES

Nicéas Romeo Zanchett 
                   Muito se tem discutido sobre a nudez. Pode ser arte, protesto, publicidade e até informações religiosas.  A nudez é linda, mas se torna ruim com sua banalização na mídia, principalmente a publicitária. O nu feminino é vendido como se fosse produto de feira. 
                   O nu artístico também foi muito explorado pela Igreja Cristã, principalmente na época do Renascimento.  Praticamente todos conhecem alguma obra de pintores como  Rubens, Miguel Ângelo, Botticelli, Correggio, Ingres, Ticiano, Cranach - com Adão e Eva -, além de muitos outros. 
                  Mas, para quem pensa que naquela época não havia censura, é bom saber que muitas obras primas foram julgadas e destruídas. Quem não ouviu falar da Inquisição? 
                  Para Adão e Eva, tomar consciência da própria nudez foi um ato de punição. A Bíblia usa de metáforas para falar sobre o assunto. Ao dar uma "mordida no fruto proibido" eles logo sentiram vergonha, fraqueza e derrota diante de si próprios e de "Deus". Apesar da ligação estreita com a vergonha e fraqueza, não se pode dizer que essas sempre tenham sido as consequências dos corpos despidos. Ao longo da história humana, em diversos contextos, a nudez  do corpo também já expressou medo, orgulho e prazer. 
                 No épico "Odisseia", o grego Homero descreve o náufrago Ulisses em apuros diante do nu da princesa Nausícaa e, no final, gostou muito do que viu. 
                 Sigmund Freud, pai da psicanálise, sem seu  esforço para desvendar o inconsciente humano, disse que o sonho de estar nu em público é comum a todos os homens. 
                 A verdade é que, em nossos dias, a nudez está em toda a parte. Ela é vista em novela de TV, no teatro, nos filmes, na publicidade, na literatura e na palheta dos artistas. Mesmo assim muitos artista cênicos - atrizes e atores - se dizem constrangidos em tirar a roupa; muitos até se arrependem amargamente por cenas de nudez que fizeram. Quando uma cena de sexo é mal feita fica pornográfica, e quem está nu é muito mais exposto. Muitos artistas cênicos se reservam, por contrato, no direito de veto das cenas que considerarem inapropriadas, mas isto também é uma forma de censura. 
                 Na segunda metade do século XX a nudez aparece como forma de protesto social com os movimentos hippie e beatnik. Já nos anos 80, envolvendo pessoas nuas, surgem os protestos sociais de ONGS e e entidades humanitárias. Todos os anos, nos Estados Unidos e Europa, mais de 100 calendários beneficentes com pessoas nuas são lançados à venda. Os motivos alegados são os mais diversos. Entre eles podemos citar: ajuda a desabrigados e menores carentes; combate ao câncer; proteção à fauna e à flora e ai por diante. 
                 Ficou bastante conhecida a foto de John Lennon e Yoko, em campanha pelo vegetarianismo, os dois apareceram nus na capa do disco. 
                 No início dos anos 90, um grupo de feministas americanas, lideradas por Andrea Dworkin e Catherine McKinnon, conseguiram a aprovação de uma lei no estado de Indiana, banindo todo o tipo de material que mostrasse a sua alegada "subordinação gráfica e sexualmente explícita de mulheres, em palavras ou imagens". A lei foi contestada na Suprema Corte americana, que a declarou inconstitucional por ferir o direito básico de liberdade de expressão. 
                A história da arte universal sempre foi pautada por polêmicas dessa natureza. Obras primas foram objeto de censura em diferentes épocas. Quando Miguel Ângelo estava finalizando as pinturas da Capela Cistina, um dos assessores do papa Paulo III advertiu "Sua Santidade" de que as imagens do Juízo Final eram mais adequadas a uma taverna do que a um capela. Em 1558, véus e folhas de parreira foram acrescentadas a elas. Recentemente essas indevidas intervenções foram retiradas por habilidosos restauradores e a originalidade do célebre artista  venceu finalmente o preconceito. 
                Também a Vênus de Milo, considerada o ideal da beleza feminina da antiga Grécia, foi "condenada" como imoral num tribunal alemão. Isto se deu em meados do século XIX. 
                Absurdos como esses continuam acontecendo em nossos dias. É o caso recente do primeiro ministro italiano Berlusconi que mandou encobrir o seio de uma figura alegórica, pintada por Giovani Battista Tieplo do século XVII, que adornava sua sala. Felizmente, o bom senso prevaleceu e a reprodução também foi restaurada conforme a original. 
                Sempre que alguém quer censurar uma obra de nudez apela para o argumento de diferenciar  o "nu artístico" do "nu vulgar". A esse respeito assim se manifestou o famoso crítico inglês Kennet Clark: "Se um nu deixa de despertar no espectador um vestígio de sentimento erótico, por menor que seja, ele não é apenas ruim como falsa moral". Também a crítica americana Camile Paglia afirmou que a frande arte não se mistura apenas ao erotismo, mas, em certas ocasiões, também à pornografia. Isto acontece sempre que o artista tem coragem de mostrar as forças extremas do instinto e da sexualidade atuando por baixo das convenções sociais. 
                A arte é a linguagem universal das imagens. Nos somos seres humanos, possivelmente civilizados, mas em nós habita o ser instintivo e ancestral de todos os viventes da terra. 

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