sexta-feira, 4 de agosto de 2017

COMO JULGAR UMA PINTURA

Nicéas Romeo Zanchett 
                 Não se pode julgar uma obra de arte sem primeiro olhá-la atentamente. Observe cada detalhe sem se preocupar com o assunto que ela representa. Uma prolongada observação poderá indicar-lhe como a obra foi concebida. 
                 Observação: Aqui me vem à memória a imagem do meu saudoso amigo Jorge Beltrão - o primeiro grande marchand brasileiro - Quando estava analisando uma obra de arte ele costumava acender seu cachimbo, sentar em frente à obra e ali ficar horas olhando cada detalhe.

                 Nunca condene uma obra pelo simples fato de nunca ter visto algo assim. A pintura é sempre uma criação e portanto o artista tem o direito de abstrair-se da realidade imediata. Um bom exemplo são as obras cubistas de Picasso. Muitos odeiam, outros amam e outros, ainda,  não entendem e nem querem entender. Mas geralmente são obras criadas com muito talento e, portanto, de qualidade. Você pode gostar ou não, mas não pode julgá-la com ruim pelo fato do artista ter usado uma cor que lhe é estranha como, por exemplo, pintar uma mulher de verde.
                 Um bom tema não é suficiente para uma boa pintura, mas uma boa pintura torna bom qualquer tema. Uma natureza morta pode ser tão boa quanto um nu feminino ou uma paisagem. 
                  Não fique o tempo todo interrogando o que quer dizer isso ou aquilo. Uma obra de arte é como uma sinfonia. Ao ouvir uma bela música você a sente penetrar e atingir suas emoções. Pode gostar ou não. Muitos não gostam de obras clássicas, mas isto não desmerece sua qualidade. Com uma boa pintura acontece a mesma coisa. A linguagem da música são os sons e da pintura são as cores e formas. 
                 Gostar ou não gostar não é a questão. Sendo a pintura uma linguagem de comunicação visual, cabe a ela comunicar-se com você, e não você com ela. Portanto, deixe que a pintura o absorva a atinja seus sentidos. 
                  Cada estilo de pintura tem linhas próprias de comunicação. Ao observar as linhas de sua composição verifique se elas se desenvolvem sem muitos acidentes ou se, pelo contrário, são extremamente acidentadas. 
                  Quando temos uma pintura de estilo coerente, às linhas calmas sucedem-se cores límpidas e espalhadas regularmente na tela. Cores violentamente contrastadas são de linhas acidentadas. Isto pode dar uma noção do estado de espírito do artista ao concebê-la. Um bom exemplo  a ser observado são as obras de Van Gogh em suas diversas fazes. 
                  Se na obra houver o claro - escuro  observe seu equilíbrio. O claro - escuro  é o artifício utilizado pelos artistas conscientes para dar a sensação de terceira dimensão. Ao claro corresponde a parte que se encontra na luz e ao escuro o lado da sombra.  Dai a importância do equilíbrio entre os dois. Em pintores ou estilos que preferem as cores e linhas serenas, geralmente o claro - escuro é pouco visível, e essas pinturas parecem ter pouca profundidade. Isto é normal e, portanto, não desqualifica a pintura. 
                  É a atenta observação da obra que lhe dirá se o artista deu  mais valor aos volumes ou se preferiu dar mais ênfase à cor. No primeiro caso teríamos uma pintura de valores escultóricos e no segundo teríamos uma pintura de valores cromáticos. Diante de uma pintura de valores escultóricos não se pode exigir cores violentas. Da mesma forma, não se pode incriminar um pintor de obras com valores cromáticos por não dar volume às suas figuras. Cada pintura tem sua essência que pode ser criativa ou não. 
                 Cada época e cada indivíduo tem seu seu estilo característico. Seria um absurdo imaginar todos pintando da mesma forma. Isto acontecia nas obras do antigo Egito, que eram copiadas indefinidamente. Se fosse assim não seria arte, criação individual.  Se Picasso pintasse como Rafael, um "Picasso" não seria um "Picasso". Cada artista reflete seu próprio mundo, sua época e, portanto, impossível de ser imitado. 
                 De um modo geral, os artistas sofrem influência de outros artistas. Trezentos anos depois de Rafael Sânzio, Ingres sofreu sua influência ao pintar o rosto de uma moça do século XIX. Ao pintar a nova Madona, Ingres buscou inspiração na pintura renascentista. Isto é muito comum em toda a história da arte. 

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